
O feriado de 7 de setembro, tradicionalmente marcado por desfiles cívicos e celebrações oficiais, ganhou em Goiânia um tom abertamente político. Centenas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ocuparam as ruas da capital para transformar a data da Independência em um ato de defesa do ex-chefe do Executivo, de crítica ao Supremo Tribunal Federal (STF) e de apoio à anistia dos condenados pelos atos de 8 de janeiro.

Parlamentares goianos da base bolsonarista estiveram presentes e reforçaram o discurso de que Bolsonaro é vítima de perseguição judicial e que as manifestações são fundamentais para manter viva a mobilização da direita no país. Faixas com frases como “Anistia já”, “Nossa bandeira nunca será vermelha” e “Liberdade” eram exibidas ao longo da concentração, que se estendeu durante toda a manhã.
O deputado estadual Amauri Ribeiro (UB) usou o microfone para conclamar a militância a permanecer mobilizada. Ele lembrou que, segundo ele, há um movimento em curso para tornar Bolsonaro inelegível e que apenas a pressão popular pode impedir esse cenário. “Podem ter certeza: eles querem prender Jair Messias Bolsonaro. Se não mostrarmos nossa força, eles vão conseguir. Mas nós não temos medo. Somos um povo de coragem e o Brasil é nosso. A nossa bandeira nunca será vermelha”, discursou.
O senador Wilder Morais (PL), que atua diretamente em Brasília na articulação de um projeto de anistia, destacou que já existe número expressivo de assinaturas no Senado para que a proposta avance. “Conseguimos 41 assinaturas no Senado e esse número está aumentando. Se não tivermos Jair Messias Bolsonaro como candidato, aí é golpe. Eleição sem Bolsonaro é golpe”, afirmou Wilder, reforçando o coro que pedia pela elegibilidade do ex-presidente.
Já o deputado federal Gustavo Gayer (PL) adotou um tom mais enfático, afirmando que o movimento de direita não é apenas a defesa de uma liderança política, mas a reafirmação de valores como fé, pátria e liberdade. “Eles erraram por acreditar que o povo do Brasil iria se curvar. Nós não vamos desistir, não importa quanta perseguição aconteça. O patriotismo é como uma fé: não se abala, só se fortalece”, disse o parlamentar.
Em outro momento, ele exaltou a presença do público em Goiânia. “Goiás é o farol de esperança do Brasil. Que as imagens de hoje inspirem outros estados a mostrarem que o povo brasileiro não vai aceitar injustiças.”
O ato também contou com uma mensagem em áudio da ex-primeira-dama Michele Bolsonaro, transmitida aos presentes. Ela acusou o Judiciário de agir de forma política contra seu marido e fez uma comparação com julgamentos autoritários do século passado. “Meu marido hoje está humilhado e preso porque enfrentou o sistema por amor ao povo. Querem destruí-lo para gritar que acabaram com o bolsonarismo, mas não conseguirão. Permaneçam firmes nessa luta, por mais dura que seja a batalha”, afirmou Michele.
Entre os participantes, a defesa da anistia ampla e irrestrita foi a pauta mais repetida. A designer de interiores Ocioli Rios disse acreditar que Bolsonaro não cometeu crimes e que sua condenação é fruto de uma disputa política. “Assim como Lula teve anistia, por que não dar a Bolsonaro, que não cometeu nenhum crime? É justo anistiar não só ele, mas todos os patriotas que estão presos. Até hoje não foi provado nada contra ele. Quem deveria estar sendo cobrado é o ex-condenado que está no poder”, afirmou. Para ela, há um “sistema ditatorial” tentando calar manifestações de rua.

O vendedor Tiago dos Reis Catalan também reforçou a necessidade da anistia e criticou diretamente o ministro Alexandre de Moraes. “Um presidente que eu votei está preso não por uma questão jurídica, mas por um sistema. Anistia é fundamental, porque não houve golpe de Estado. O que precisa é impeachment de Alexandre de Moraes. Ele hoje é a maior ameaça à liberdade”, disse.

Já a assessora parlamentar Maria Eduarda Ribeiro, afirmou que o ato é também um movimento por esperança. “O 7 de setembro significa liberdade e democracia. A anistia é necessária, e o que esperamos é a reeleição de Bolsonaro, porque é o que desejamos para o futuro do Brasil. A gente está aqui gritando por isso, para que nossa voz seja realmente escutada”, declarou.
O ato em Goiânia se soma a manifestações realizadas em outras cidades do país neste 7 de setembro, marcadas pela defesa de Bolsonaro e pelo discurso contra o STF. No Congresso, o debate sobre anistia tem crescido, mas enfrenta resistência de parte dos parlamentares e da opinião pública.
A vereadora Kátia Maria (PT) destacou que a data foi, por algum tempo, sequestrada pelo bolsonarismo e que agora precisa ser ressignificada
Grito dos Excluídos no início da manhã. | Foto: Wesley Menezes
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Enquanto as comemorações oficiais da Independência ocuparam as ruas de diversas cidades do país, Goiânia recebeu neste 7 de setembro a 31ª edição do Grito dos Excluídos, manifestação que reuniu movimentos sociais, entidades populares e lideranças políticas em torno de bandeiras como soberania nacional, democracia, inclusão social e combate às desigualdades.
A vereadora Kátia Maria (PT) destacou que a data foi, por algum tempo, sequestrada pelo bolsonarismo e que agora precisa ser ressignificada. Para ela, não há como falar em independência sem soberania. “Soberania significa autonomia para decidir e também justiça tributária, fiscal e social, para que todos tenham voz e vez”, afirmou.
Ela ressaltou ainda o papel do governo Lula na busca por maior equilíbrio econômico e criticou o atual sistema de impostos, em que, segundo ela, os trabalhadores de baixa renda acabam arcando com uma carga muito maior do que os super-ricos. Kátia também rechaçou a possibilidade de anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro: “Quem tentou golpear a democracia brasileira precisa ser penalizado. A história já mostrou que quando não há punição, os golpes voltam a se repetir”.
Já a deputada federal Adriana Accorsi (PT) afirmou que o 7 de setembro é um momento de reafirmar princípios básicos da vida nacional, como democracia e soberania. Para ela, as provas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro são consistentes e devem levar à condenação. “A população brasileira espera justiça, e as evidências reunidas no processo são muito claras”, disse. Adriana também apontou que a condução da pandemia precisa ser analisada judicialmente: “Muitas vidas foram perdidas por omissão e negligência. Esse capítulo da história não pode ficar impune”.
A deputada estadual Bia de Lima (PT) reforçou o caráter popular da mobilização. Para ela, o Grito dos Excluídos é um espaço que reúne diferentes bandeiras, mas com um objetivo comum: dar visibilidade às lutas sociais e às reivindicações da classe trabalhadora. “Nós somos os verdadeiros patriotas, os que lutam pela inclusão social e pelos direitos dos trabalhadores”, declarou. A parlamentar também fez um alerta sobre a necessidade de a esquerda retomar o trabalho de base para reconquistar a confiança da classe trabalhadora. Segundo Bia, muitas vezes, pessoas pobres acabam defendendo pautas da elite por desconhecimento de sua condição social. “É pela educação que vamos recuperar a consciência coletiva e combater as fake news”, avaliou.

O vereador Edward Madureira (PT) lembrou que o Grito dos Excluídos, ao longo de mais de três décadas, pautou avanços significativos no país. Ele citou reivindicações históricas como moradia, acesso à terra, educação, saúde e respeito às populações de rua. Para Edward, a manifestação é fundamental para manter viva a agenda da democracia. “As pautas são complexas, mas se eu tivesse que eleger uma prioridade, seria a defesa da democracia e da soberania do Brasil”, afirmou. Ao comentar o julgamento do ex-presidente, disse que é preciso manter a serenidade institucional: “O Supremo está conduzindo o processo com ampla defesa e contraditório. O Brasil precisa se impor como nação soberana e não se ajoelhar diante de bravatas externas”.
O arcebispo de Goiânia, Dom João Justino, também discursou durante o ato, reforçando a dimensão social e espiritual da mobilização. Ele lembrou que a Igreja se soma ao movimento por justiça, fraternidade e paz, e destacou a necessidade de escutar os múltiplos gritos da sociedade. “Seguimos como cidadãos e cristãos a escutar os gritos de hoje, especialmente dos excluídos e excluídas, e também o grito da terra”, afirmou.
O religioso citou temas como a paz internacional, a justiça fiscal, a luta contra o feminicídio, o combate ao crime organizado, a defesa da educação pública, da reforma agrária e urbana, além da preservação ambiental. “Há gritos contra o racismo, contra os preconceitos, contra a violência. Gritos pela proteção dos biomas, das nascentes de água, contra as queimadas e pela ecologia integral. Todo aquele que grita tem alguma esperança. Cabe a nós transformar essa escuta em solidariedade”, concluiu.
