As supostas aparições ocorreram sempre na presença do padre Victor L’Horset, então responsável pela paróquia local

O Vaticano concluiu, após décadas de análise, que as supostas aparições de Jesus Cristo registradas na pequena cidade de Dozulé, na França, não têm origem sobrenatural. A decisão foi formalizada nesta quarta-feira, 12, pelo papa Leão XIV, em documento do Dicastério da Doutrina da Fé.
O caso, ocorrido entre 1972 e 1978, ganhou repercussão internacional após a francesa Madeleine Aumont relatar 49 aparições de Cristo, número elevado a 50 por grupos devocionais. As mensagens atribuídas a Jesus possuíam forte teor apocalíptico e previam a construção de uma cruz monumental de 738 metros de altura no local.
Segundo o comunicado assinado pelo cardeal Víctor Manuel Fernández, prefeito do dicastério, as análises conduzidas pela Santa Sé ao longo de cinco décadas apontam que “o fenômeno deve ser reconhecido, definitivamente, como não sobrenatural em sua origem”. Com isso, o local e as mensagens deixam de ter qualquer reconhecimento oficial e não podem ser objeto de veneração pública.
As supostas aparições ocorreram sempre na presença do padre Victor L’Horset, então responsável pela paróquia local. O conteúdo das mensagens tratava de temas ligados ao fim dos tempos e estipulava prazos específicos para a construção de uma nova “Cruz Gloriosa”. Segundo fiéis, essa cruz deveria seguir as proporções da cruz da crucificação descrita na tradição cristã.
Movimentos religiosos chegaram a se formar em torno das revelações, com orações próprias e peregrinações regulares ao morro de Dozulé. A prática, porém, sempre foi vista com cautela pela Igreja.
O documento do Dicastério destaca trechos contraditórios das alegações, como a previsão de que a cruz deveria estar erguida até o fim de 1975, então considerado o “último Ano Santo”. O texto ressalta que a previsão “não se cumpriu”, reforçando a conclusão da investigação.
A decisão ocorre uma semana após Leão XIV afirmar que a Virgem Maria não é corredentora da humanidade, afastando uma interpretação presente em grupos marianos e até mencionada em discursos do papa João Paulo II.
Os dois anúncios sugerem que o pontífice busca delimitar práticas devocionais populares que se distanciam da doutrina oficial, preservando o núcleo teológico da fé católica.
“A oração, a veneração da cruz e o amor aos que sofrem permanecem como meios legítimos de conversão”, diz a carta, “mas não devem ser acompanhados por elementos que possam gerar confusão ou reivindicar autoridade sobrenatural sem discernimento da Igreja”.
